Visibilidad Singular, Realidad Plural. ¡Salve América Latina!

Visibilidad Singular, Realidad Plural. ¡Salve América Latina!

La autora resalta que la reciente XVII Conferencia Internacional sobre Sida, desarrollada en México, pudo por fin mirar hacia América Latina. Explica, que la “epidemia concentrada” mostró su rostro, posibilitando un redireccionamiento de las más variadas miradas y políticas y a la vez tan conocidas y previsibles. Dice “fue aquí, en América Latina, que el mundo pudo tener contacto, cara a cara, con la diversidad humana, su rica peculiaridad, singularidad y valiosa contribución”. Destaca la participación de las llamadas poblaciones vulnerables que protagonizaron las discusiones; para ella, fue posible ver y oír a las trabajadoras sexuales, a las personas trans, travestis, transexuales, transgéneros e intersexuales, con sus saberes y experiencias. Resalta como “generoso e impecable ejemplo la participación de las personas viviendo con VIH/Sida”. Para ella, quedó claro, que no hay equidad en relación a los recursos financieros para combatir el Sida.

¡Eureca, Eureca! ¡Foi descoberta a América Latina!

Após mais de duas décadas das edições da Conferência Internacional de Aids, pela primeira vez na história, o mundo se vira para as especificidades da região latina- americana, para a dita epidemia concentrada! E foi em agosto de 2008, na cidade do México, com sua cultura secular e sua hospitalidade calorosa que milhares de pessoas, dos quatro cantos do planeta foram acolhidas em torno de um objetivo comum: lutar e agir para um mundo sem Aids.

03. Visibilidad Singular, Realidad Plural. ¡Salve América Latina!

Naquele contexto a “epidemia concentrada” mostrou sua cara, possibilitando um redirecionamento dos mais variados olhares, das mais variadas políticas já tão conhecidas e previsíveis por todos nós. Foi aqui, na América Latina, que o mundo pôde ter contato, face a face, com a diversidade humana explícita, sua rica peculiaridade, generosa singularidade e valiosa contribuição.

As chamadas populações vulneráveis protagonizaram as discussões e se fizeram presentes durante as atividades da XVII Conferência Internacional de Aids. Era possível ver e ouvir trabalhadoras sexuais, talvez trabalhadoras cuja profissão seja a mais antiga do mundo, abrindo palestras magnas, trazendo aspectos da vida cotidiana que, não raro, é comum a qualquer nacionalidade, crença ou condição socioeconômica ou cenário político. As vulnerabilidades que ameaçam a integridade humana e saúde de pessoas excluídas da dita sociedade politicamente correta, ecoaram nos corações e mentes dos formadores de opinião, elaboradores de políticas, ativistas, acadêmicos e pessoas comuns que faziam da conferência um momento ímpar na história da luta contra a Aids. Da mesma forma que os homossexuais, lésbicas, outros homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, usuários de drogas, deficientes, dentre tantas outras especificidades, puderam se fazer visíveis e trazer fatos da vida real, trabalhos realizados e visões propositivas, que influenciam diretamente na resposta global de luta contra a Aids.

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Grande destaque e atuação tiveram as pessoas trans. Travestis, transexuais, transgêneros e intersexuais desfilavam seus saberes e experiências pelas reuniões satélites, pelas sessões de debates e plenárias, e o faziam com tanta maestria, dignidade, respeito, propriedade e beleza, que era impossível fingir que “esse tipo de gente” (como dizem os menos esclarecidos quando se referem ao diferente deles) não existe em nossas vidas, famílias, casas, ruas, cidades, países e regiões. Após aquela conferência, torna-se impossível, para não dizer, uma estupidez, não reconhecer que os conhecimentos adquiridos por essas populações através de suas próprias vivências, através de trabalhos realizados com as diversas comunidades na luta contra a Aids e na defesa dos direitos humanos, trans ou não trans, e os resultados obtidos para atenuar o impacto da epidemia e da exclusão social através da incidência política refletida em algumas políticas, que seu mérito não é baseado em evidências científicas. Sim porque a ciência não é tão somente feita de métodos comprovados em laboratórios e ensaios clínicos, mas igualmente, essa mesma ciência e feita através das evidências de base comunitária.

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Em uma das discussões que participei numa sessão em que a mesa era composta, exclusivamente por pessoas trans, porém com uma audiência diversificada e multisetorial, pude observar a discrepância entre o discurso e a realidade que há nos países em relação aos programas, políticas e legislações que envolvem as populações de maior vulnerabilidade, em especial as pessoas trans, a minoria das minorias. Quer sejam por simples negação – advindas do preconceito – ou por falta de cumprimento dos tratados internacionais e nacionais, ou ainda por imposição religiosa e valores morais desajustados à época em que vivemos, ocasionando uma realidade cruel e fazendo muitas vítimas de preconceito, estigma, discriminação e até mesmo, crimes de ódio.

Por outro lado, também pude observar as similaridades pelas quais passam as pessoas trans em seus países. Mas o mais incrível de tudo foi observar o ponto que une a todas: força para lutar por seus direitos fundamentais de cidadãs e cidadãos e generosidade para com seus pares e comunidades! Um saber que é potencializado pela mola propulsora e íntima que existe nos seres humanos, a vontade de construir, melhorar e evoluir. O desejo por um mundo mais igualitário e equânime, mais justo e inclusivo. A cidadania!

Ficou claro durante diversas discussões que não há equidade em relação, por exemplo, aos recursos financeiros direcionados para combater a Aids. O dinheiro não chega até as instituições e comunidades que não fazem parte do imaginário “GRFPC – grupo reconhecido pelos financiadores e politicamente correto”. Uma lástima, pois negligenciando essas comunidades, os “grandes poderes” não percebem que estão negligenciando a si próprios, pois uma política só é universal se tiver alcance em todo indivíduo, caso contrário, aquela pessoa “grande” hoje, poderá se ver uma vítima do amanhã, encontrando-se numa situação futura cuja política implementada por ela mesma venha a excluir um dos seus. E então perguntamos: “E agora José, para onde?”

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Contudo, a Aids, que tem trazido tanto sofrimento individual e coletivo, tanta mazela humana, felizmente possui outro lado: a mesma Aids tem acordado a raça humana e a tem chamado para a consciência e responsabilidade para o cumprimento de seu dever que é o de tirar as máscaras da insegurança e do medo e enfrentar a realidade de um mundo que nós mesmos construímos, simplesmente nós! Um mundo onde o ar que respiramos e a água que bebemos, ou o alimento que comemos, podem ser os mesmos para todos, ou já não são? E com base nessa percepção coletiva que também pude observar um avanço, ainda que moroso e insatisfatório, na busca por respostas mais abrangentes, inclusivas, equânimes, sustentáveis, realistas e efetivamente com qualidade para todos. Grande empenho por parte do setor científico em demonstrar novas formas de prevenção, não focando somente no esforço individual, mas propondo práticas medicalizadas, até quem sabe, milagrosas! Há que se ouvir o que nos parece novo. Há que se discutir o que nos parece absurdo, há que se praticar a democracia. E somente nessa prática vamos poder também nos fazer ouvir, possibilitando-nos discutir, debater, intervir, influenciar, aprender e ensinar, e decidir! Para mudar algo, é preciso que se esteja ao lado do que se pretende mudar.

Foi maravilhoso e edificante poder assistir ao Secretário Geral das Nações Unidas, o Sr. Ban ki- Moon, em plena visita à Aldeia Global, observando os feitos sociais e dialogando com atores comunitários. Coincidência ou não, há poucas semanas o mesmo Secretário Geral proferiu palavras e pensamentos durante um evento em Tourin, na Itália, onde o mesmo disse que a mudança deve iniciar dentro de cada um de nós, o que inclui as Nações Unidas. Falou muito sobre a perda de tempo em aspectos excessivamente burocráticos e pouco produtivos.

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É, minha gente, precisamos avançar, e para isso, precisamos ouvir e aceitar as realidades de nosso planeta terra. Assim, poderemos fazer a tal e tão sonhada diferença nesse ciclo civilizatório e que escreve histórias.

Vejamos o generoso e impecável exemplo da participação das pessoas vivendo com HIV/AIDS na conferência da diversidade. A começarmos pelo “lounge” reservado para as pessoas vivendo com HIV/AIDS. Ao primeiro momento, um espaço acolhedor, para promover o descanso, o relaxamento, o repouso; para alimentar e proporcionar momentos de troca de experiências e vivências. Um momento para humanização e solidariedade. Todavia, as PVHA conseguem atualmente, perceber seu lugar no mundo e seu mandato nessa toda história da Aids. Estrategicamente, aquele espaço também é um loco para manifestações políticas, para elaboração e construção de agendas comuns que visibilizem cada vez mais as pessoas vivendo com HIV em sua missão por uma política global, contínua e sustentável que garanta a inclusão universal e total das PVHA no contexto de uma vida cidadã e de direito.

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Uma discussão que teve um sabor picante foi a prevenção positiva. Durante o Encontro Internacional de PVHA que antecedeu a conferência, ativistas HIV positivos, homens e mulheres, pessoas de todas as culturas, raças, identidade sexual, orientações sexuais e perspectivas e antecedentes diversos, debatiam sobre os conceitos de prevenção positiva e suas implicações na população.

Alguns acreditavam que ao final, prevenção positiva acabava se resumindo em prevenir o outro e a si mesmo de doenças sexualmente transmissíveis. Eis então que nossa América Latina entra em cena e desconstrói essa idéia de “minha culpa, minha máxima culpa”! O conceito de prevenção positiva vai muito mais além. Ele está ligado diretamente à qualidade de vida e exercício da cidadania. Três atores são imprescindíveis para a efetivação da prevenção positiva: gestor, profissional de saúde e pessoa vivendo com HIV/AIDS. A prevenção positiva é um processo que enfoca ações integradas de prevenção, assistência e promoção dos direitos humanos. E para haver melhoria na qualidade da atenção, é necessário enfrentar o estigma e o preconceito, fortalecer o protagonismo das PVHA e levar em consideração a diversidade.

Mulheres vivendo com Aids demandam olhares e conhecimentos que possam contemplar as necessidades de um corpo e metabolismo femininos. Mulheres exigem que a igualdade de gênero esteja em todas as agendas dos mais diversos setores. Mulheres dizem não à cultura da violência, da possessão e da impunidade.

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Jovens vivendo com HIV/AIDS desafiam aos que os negligenciam exigindo-lhes que tirem seus tampões dos ouvidos e os escutem. Os tempos são outros quando comparados há vinte anos. Os desejos, regras sociais e modismos ocupam lugar novo e diferenciado na convivência diária em nossas vidas.

Deficientes físicos, visuais, auditivos, mentais, e vivendo com HIV/Aids, dentre outros, tiveram seu tema e especificidades discutidos, protagonizando sua própria história e agregando valores para as ONG, governos, pesquisadores e organismos presentes e os profissionais comprometidos com a causa da vida! Novos desafios, novos esforços, nova compreensão, e velhas necessidades são postas e ações são demandadas.

Por fim, poderia dizer que, sem dúvida, essa foi uma das melhores conferências que pude participar. Assim como na conferência de Durban, que tive a felicidade de estar presente, participando do grito “break the silence”; estive na conferência do México, participando da voz uníssona de quem exige que sua especificidade seja somada com as outras especificidades para o “acesso universal já”. E não nos esqueçamos que acesso universal é inclusão social, econômica, política. Acesso Universal é Direito Humano, inegável, inalienável e intransferível.

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Termino o compartilhamento de minhas impressões e experiências vividas na XVII Conferência Internacional de Aids, realizada em meu continente, na América Latina, parabenizando toda a organização latino- americana que fez uma conferência impecável, digna de dizermos que somos os tais países do sul, em desenvolvimento; e dando uma salva de palmas para toda a diversidade sexual, de identidade de gênero, de gênero, de raça, de etnia, de cultura, de crença e de vida que esteve presente no México, trazendo seu apelo íntimo de contribuir para um mundo bem melhor e mais gostoso para todos nós.

E, parafraseando o poeta, eu afirmo: “é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”.

Sobre la autora

Jacqueline Rocha Côrtes – Brasil

Ativista, consultora em HIV/AIDS e Direitos Humanos. Mulher vivendo com AIDS há 14 anos.



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